Ser Tão Velho Cerrado: O Grito de Alerta para a extinção do cerrado Brasileiro
Documentário reúne entrevistas com agricultores, empresários do agronegócio, biólogos e políticos em painel sobre agressões ao meio ambiente.
O produtor e cineasta André D’Elia tem ficado de olho aberto para os crimes ambientais e perigos que ameaçam o meio ambiente brasileiro. Seu ativismo é registrar, através da lente e da arte da sua câmera, esse drama, crescendo cada vez mais como um nome importante no panorama do cinema ambiental brasileiro.
Depois de falar sobre a hidrelétrica de Belo Monte em "Belo Monte: Anúncio de Uma Guerra' (2012) e destacar as terríveis consequências do novo código florestal em "A Lei da Água" (2015), o seu cinema documental se volta para o Cerrado. Chamado Ser Tão Velho Cerrado, a nova produção faz sua estreia nacional no dia 9 de agosto feito pela Cinedelia com apoio cultural da O2 Filmes.
O longa tem a participação de atores como Juliano Cazarré, e de Reynaldo Gianecchini, além do mestre espiritual Prem Baba e de biólogos, prefeitos e ambientalistas. O filme, com filmagens na Chapada dos Veadeiros, fala desse bioma que tem 40 milhões de anos e que agora se vê ameaçado pelo desmatamento e pelo crescimento das monoculturas.
Ser Tão Velho Cerrado venceu o Prêmio do Público de “Melhor Filme” na 7a Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental 2018.
Sinópse
Um filme que mostra a importância do bioma cerrado para a sociedade brasileira. Preocupados com o fim do cerrado no estado de Goiás, os moradores da Chapada dos Veadeiros buscam alternativas de desenvolvimento para sua região. A elaboração de um plano de manejo da APA do Pouso Alto os desafia a conciliar interesses aparentemente incompatíveis, abrindo um diálogo necessário entre a comunidade científica, agricultores familiares, grandes proprietários de terra e defensores do meio ambiente.
"Preservar é o pior negócio”...
Afirma um produtor de soja transgênica em uma das dezenas de entrevistas reunidas no documentário Ser Tão Velho Cerrado, uma das estreias da semana. O longa leva ao público informações, infográficos e depoimentos sobre o estágio avançado de destruição do bioma responsável pelo equilíbrio de todos os outros no Brasil, pois o cerrado funcionaria como uma grande esponja que absorve água das chuvas e alimenta os principais aquíferos do brasil.
Declarações de empresários totalmente despreocupados com o meio ambiente somam-se a relatos alarmantes de biólogos, prefeitos, agricultores familiares e moradores do território quilombola Kalunga, entre outros personagens.
“O filme tem que trazer provocação para a comunidade e o poder público. Afinal de contas, precisamos do Cerrado para viver. O que está em jogo é o direito de as pessoas viverem tranquilas, terem energia, água, comerem bem”, diz o diretor paulistano André D’Elia, de 31 anos. “Não somos ambientalistas, mas humanistas”, continua.
D’Elia foi chamado para retratar o bioma do Centro-Oeste pela Fundação Mais Cerrado, organização que articula politicamente pela criação de uma lei de proteção e coproduziu o filme. Ao longo dos três anos de realização do documentário, o Cerrado sofreu com desmatamentos e sobretudo com o grande incêndio de 2017, que destruiu 65 mil hectares (ou 25%) do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Ainda existe a suspeita de motivação criminosa.
Especialistas explicam que o Cerrado funciona como uma espécie de guarda-chuva, distribuindo água para outras regiões do país. As raízes profundas das árvores ajudam a formar lençóis freáticos. A única coisa que segura o líquido é justamente a vegetação nativa, alvo de destruição da agricultura industrial para dar lugar a pastagens de gado e plantações de soja – sem falar nas ameaças causadas pela mineração e pela possível construção de hidrelétricas na Chapada em um futuro próximo.
Ou seja: quanto mais desmatamento, menos água. “Em breve, vai ter muito parlamentar tomando banho de canequinha”, brinca o ator Juliano Cazarré, narrador de trechos do filme com a atriz Valéria Pontes.
“Muitos cientistas acreditam que o Cerrado já atingiu um patamar irreversível de perda de biodiversidade. Vivemos desertificação sem precedentes, crise hídrica nunca vista. Como está organizada hoje, a monocultura industrial inviabiliza a agricultura familiar. Se a gente continuar destruindo e o poder público agindo como faz hoje, teremos cenário muito triste de falta de água e crise de fome no futuro”, alerta D’Elia.
Assista ao Trailer do Filme: